Depois
de vários encontros com seres sobrenaturais, de ser levado a força para uma
floresta e pensar que estava morto, depois de encontrar um animal mágico e
descobrir que virei um dominador do macaco que nomeei de Simbio e principalmente
depois de receber um apelido tão óbvio de Primata, voltei para Miranda, mas
dessa vez para morar.
Simbio,
um macaquinho branco de um metro de altura talvez, me ajuda muito e anda ao meu
lado dia e noite. Depois que voltei já tive outros encontros, principalmente
com vampiros, que são mais comuns por aqui, surgem como pragas e cada vez mais
dominam alguns becos escuros e sombrios.
Mas
hoje não estou aqui para contar sobre vampiros, lobisomens ou macacos mágicos e
apelidos estranhos, estou aqui para falar do dia que topei com um ser
diferente, um humano com a pele pálida e pequenos insetos saindo de uma orelha
e entrando no nariz, um odor fétido e fazia uns grunhidos muito estranhos. Logo
soube do que se tratava, porque desde a primeira vez que entrei no mundo
sobrenatural, todas as historinhas de terror tinham ganhado vida, neste caso eu
estava lidando com um ser chamado de Zumbi.
Fui
andar pela cidade no meio da noite, mais especificamente na Avenida Afonso
Pena, para eliminar alguns vampiros que andavam por aí atacando os moradores,
quando encontrei um que estava mordendo uma pessoa, jogou ela no trilho do
trem, era uma mulher, bonita e sensual em seus aparentes trinta anos. O vampiro
fugiu, outro dia também deixei ele escapar, mas desta vez foi porque a vítima
ainda estava viva e minha prioridade seria salvá-la.
Apoiei meus pés no madeiramento que cerca os trilhos e logo estava lá embaixo, mas a única coisa que vi foi o corpo da mulher ser drenado para dentro da terra, não consegui nem chegar perto dela. Comecei a cavoucar e pedi para o Simbio me ajudar, mas era tarde, havia perdido uma para aqueles vampiros desgraçados, mas sabia que isso não tinha a ver com vampiros e sim com algum outro evento sobrenatural.
Apoiei meus pés no madeiramento que cerca os trilhos e logo estava lá embaixo, mas a única coisa que vi foi o corpo da mulher ser drenado para dentro da terra, não consegui nem chegar perto dela. Comecei a cavoucar e pedi para o Simbio me ajudar, mas era tarde, havia perdido uma para aqueles vampiros desgraçados, mas sabia que isso não tinha a ver com vampiros e sim com algum outro evento sobrenatural.
Corri
logo para pesquisar com as fontes que tínhamos em outras cidades ou países,
liguei para várias pessoas, inclusive um homem chamado Tulio que tem um
conhecimento absurdamente extenso sobre o sobrenatural, mas nem ele soube me
dizer o que era, apenas disse que já havia ouvido histórias destas, mas não
terminaram bem. Isso aconteceu com uma cidadezinha no interior de Goias que
chamava Chorosa, mas tem muito tempo que ela não existe mais, seus habitantes
simplesmente foram sumindo aos poucos e outros relatos diziam que amigos ou
familiares começavam a ficar estranhos e com uma fome fora do normal, querendo
sempre carne crua. Ele não soube dizer o que era por não ter sobrevivido
ninguém, mas deixou no ar a sensação de estarmos lidando com algo muito
perigoso. Tulio também adicionou que não eram zumbis, porque todas as histórias
inventadas têm relação com o mundo sobrenatural e esses não chegavam nem perto
de serem os mortos-vivos das histórias de terror.
Todas
essas informações me deixaram preocupado, será que Miranda deixaria de existir
logo? Não, eu não permitira isso.
No dia
seguinte ao estranho fato e depois de muito mais pesquisas que fiz, estava
circulando pela cidade quando vi aquela mulher andando na rua, fazendo compras
e conversando com os outros como se nada tivesse acontecido, achei estranho e
fui conversar com ela.
- Boa tarde, meu nome é Gabriel, ontem foi você que vi
andando ali na avenida de noite né?
- Oi, desculpe, eu te conheço?
- Na verdade é que te vi ontem na avenida tarde da noite e
te vi cair no trilho do trem, mas não te encontrei depois, você está bem?
- Trilho do trem ontem? Não, nem estive na avenida, fiquei
em casa dormindo.
- Ah tá. Ok então, devo tê-la confundido, me desculpe.
Virei
as costas e andei um pouco, então parei e resolvi segui-la para descobrir se
alguma coisa andava errada com aquela mulher. Simbio ficava andando pelas
árvores ou telhados para não chamar a atenção por ser de tarde, algumas poucas
vezes ele ficava ao meu lado.
Durante
a caminhada dela percebi que parava em toda lanchonete que passava, perguntava
alguma coisa e ia embora, então certa vez ela parou e comprou um lanche.
Esperei ela sair dali e perguntei para o atendente que lanche ela havia pedido,
pois o tinha visto e parecia saboroso, ele me respondeu que era um X-Picanha,
mas o dela ela pediu com a carne quase crua e para não perder a venda o
atendente repassou o pedido.
Comecei
a anotar os dias que se seguiam tudo o que ela fazia, eu sempre estava
seguindo-a, fosse de dia, tarde ou noite, Simbio cuidava dela enquanto estava
em casa, pois ele podia ficar nos telhados sem ser percebido.
Durante
sete dias eu a segui e anotei tudo, percebi que com o tempo ela ia aumentando
seu apetite e perdendo suas funções cerebrais, no oitavo dia ela foi internada
por estar com os batimentos quase no zero e sua pele estava muito gelada, a mãe
dela pensou que estava morta quando chamou a ambulância.
Desde
então já haviam se passado mais três dias e ela sumiu do hospital junto com um
enfermeiro, muitas hipóteses foram lançadas até a mais sórdidas de todas, que
seria se a mulher tivesse morrido e o enfermeiro roubou o corpo para poder
usá-lo como objeto sexual, mas era claro que eu já sabia do que se tratava.
Só para
relembrar, atualmente na história já se passaram dez dias após o incidente da
mulher, ninguém mais havia tido mudanças de comportamento e nem sumido até esse
caso do enfermeiro, então fiquei preocupado e comecei a vasculhar as ruas e
principalmente onde os trilhos passavam, mas voltamos a história.
No dia
2 de novembro, também conhecido como Dia de Finados, décimo primeiro dia depois
de tudo, muitas pessoas foram aos cemitérios da cidade e enquanto eu ainda
andava pela rua quando meu celular tocou. Era o Tulio, aquele cara que comentei
que é especialista em sobrenatural, ele havia descoberto algumas coisas novas
sobre o caso e queria compartilhar. A conversa foi mais ou menos rápida, ele
disse apenas que descobriu que no dia 20 de outubro um trem carregado de carvão
havia passado por Miranda, mas nele havia muito mais do que carvão, eles
estavam transportando corpos de pessoas que morreram em um incidente numa
fábrica longe dali, sumindo com os corpos a fabrica não seria responsabilizada
por todos os problemas causados, os corpos estavam todos infectados de material
radio ativo e sua decomposição era muito rápida, tanto que na chegada do trem
ao ponto final os corpos já haviam virado apenas ossos.
Comecei
a suspeitar que esse material possa ter caído no solo quando o trem passou, mas
mesmo assim não explicaria o porquê dela ter sido sugada para dentro da terra.
Alguma coisa me dizia que ainda havia muito mais por trás disso e não demorou
muito para eu descobrir.
No dia
de finados mesmo, ainda no período da tarde eu estava pensando sobre tudo,
sentado no banco da praça em frente a igreja quando ouvi uns grunhidos estranhos
e fui verificar, andei por duas quadras em direção oposta a praça e o encontrei.
Eu via um homem, não consegui identificar a idade aproximada, mas ele estava
com as costelas para fora da carne e segurava na mão esquerda um pedaço das
tripas que estavam caindo para fora de sua barriga, sua pele estava decomposta
parcialmente e os músculos da face apareciam como caminho para os insetos que
circulavam de suas orelhas para seu nariz e boca, um ser de aparência asquerosa
e odor fétido.
Olhei
por toda minha volta e não vi ninguém circulando nas ruas, ao menos não por
ali, apenas um pequeno gato que passou perto daquele monstro e pude sim
confirmar tudo o que já havia visto. O homem pegou o gato com sua mão direita e
o enrolou nas tripas que segurava para mantê-lo preso, começou a comer o animal
vivo, mordendo a orelha do gato e puxando com voracidade, consegui ouvir os
gemidos de dor e agonia do animal enquanto ainda não morria de hemorragia,
fiquei ali assistindo aquela cena assustadora até o momento em que não pude me
conter e vomitei no chão, ao lado de uma árvore. Estava com o estomago revirado
e então parti para cima do homem, lembrei-me de que nas histórias já vistas em
filmes, os zumbis só morrem com danos na cabeça, pois o cérebro é o único órgão
que continua vivo.
Durante
os primeiros passos para cima do zumbi eu pensei que estaria bem e aquela luta
seria vencida com facilidade, mas logo ouvi Simbio me chamando e avisando que
algo estava errado, alguém mais estava ali perto, ele sentia o mesmo cheiro vindo
de outra direção. Tentar ficar atento e continuei indo até o morto-vivo, mas
minha atenção não foi tão boa, pois fui surpreendido pela mulher, é, aquela
mulher mesmo, do começo da história, ela estava fedendo e com sua carne também
em decomposição, mas seus movimentos eram muito mais rápidos e eficientes, sua
coordenação ainda não havia acabado por completo, imaginei que talvez aquele
homem fosse o primeiro que chegou à cidade, por isso já estaria naquele estado.
Comecei
um combate contra a mulher, nunca havia batido em uma antes, mas nesse caso era
essencial que eu o fizesse, porque senão eu poderia acabar morto, quer dizer,
poderia acabar morto-vivo. Simbio me ajudou no combate quebrando galhos e me
dando para usar como taco ou lança e também distraiu a mulher para que eu conseguisse
perfurar seu crânio com um dos galhos pontudos que o macaquinho havia jogado
pra mim. Por sorte havia eliminado ela, que era mais ágil e forte, agora
faltava apenas o homem, meio homem, nem sei como chamá-lo.
Fui
andando para cima dele de novo e quando me aproximei bem ele olhou com seus
olhos quase inteiramente brancos e sussurrou algumas palavras que não pude
entender, ficou ali, imóvel, segurando suas tripas e mastigando o resto de
carne do gato que ainda estava entre seus dedos também decompostos.
Achei
que ele viria para cima de mim, tentar me matar ou comer minha carne, mas pelo
visto não, então continuei minha aproximação, peguei meu celular e fotografei o
monstro algumas vezes para enviar ao Tulio, aumentando assim sua biblioteca
sobrenatural.
Quando
estava quase na frente do homem, ele me olhou nos olhos, inclinou um pouco a
cabeça e começou a fungar, como se tentasse sentir meu cheiro. Fiquei de
prontidão e Simbio ficava só de longe me cuidando também. O zumbi ergueu sua
mão direita em direção a suas costelas expostas, soltou o gato que comia e
tirou um papel todo ensanguentado e com pedaços de carne grudados, soltou o
papel no chão e nesse mesmo instante ele me atacou.
Foi uma
luta difícil, pois eu estava muito próximo dele e foi difícil esquivar, ele
conseguiu me segurar usando aquelas tripas como laço para prender meu braço,
mas Simbio logo correu e começou a arranhar e bater na cabeça do zumbi que me
soltou e tentou pegar o macaquinho, mas não deixei, foi então que o matei com o
pedaço de pau que eu estava segurando, bati em sua cabeça com tanta força que
seus miolos foram esparramados no chão se misturando ao gato desmembrado e
mastigado, por pouco não acerto Simbio.
Então
peguei aquele papel com uma folha de árvore, para não tocar naquele sangue
nojento, e o levei embora dali, antes de ir os corpos já haviam sumido e virado
pó e ossos, juntei os restos e coloquei em uma sacola bem grande e preta, que
havia sido deixada com lixo por alguma casa da vizinhança, e enterrei.
Agora
eu estava sujo de sangue, fedendo e com um papel ensanguentado na mão que não
sei por que aquele zumbi me entregou. Fui para casa e tomei um banho, estendi o
papel sobre a mesa e deixei secar para que pudesse ler melhor o que estava
escrito. Enquanto não conseguia decifrar a escrita continuei de vigília para
evitar que mais algum zumbi conseguisse chegar a Miranda, eu não deixaria
ninguém sumir com essa cidade, nem mal algum torná-la inabitável ou sombria, o
meu papel ali era proteger, eu era o Guardião de Miranda.
Como
Guardião testei de diversas formas o solo dos trilhos e descobri uma variação
em apenas uma pequena área, ali eu cavouquei e encontrei uma pedra, era verde,
de aproximadamente cinco centímetros e em seu interior uma fumaça ficava voando
de um lado para o outro, peguei a pedra, tampei o buraco que fiz no terreno e
liguei para Tulio, que me contou uma história que já tinha ouvido. Existe um
tipo muito específico de Morto-Vivo que não é bem um deles, mas é um corpo sem
alma, a alma é colocada dentro de uma pedra para que ele se torne imortal,
enquanto a pedra não for quebrada, o corpo vive, o nome desse ser é Lich.
Se
matei dois zumbis e eles morreram de verdade, então o Lich ainda está vivo,
preciso encontra-lo, ele que deve estar envolvido nestes casos de zumbis, ou
simplesmente destruo a pedra e encerro toda essa história, já havia se passado
alguns dias e nenhum outro zumbi havia aparecido. Coloquei a pedra no chão e
com uma marreta bati com toda minha força, um estouro aconteceu e a marreta
praticamente virou pó, enquanto a pedra ficou intacta, eu teria que descobrir
um jeito de destruir aquela pedra, decidi guardá-la comigo e estudar.
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