Histórias eram contadas de cobras
gigantes, com aparência humanoide da cintura pra cima e isso se tornou uma
lenda urbana na cidade, algumas pessoas juravam tê-las visto e sempre eram
perseguidos ou as viam comendo alguma coisa grande, como um cavalo ou um
cachorro, alguns até diziam que elas comiam gente e algumas pessoas já haviam
sumido sem deixar vestígios.
Certo dia
começaram a ocorrer mortes na cidade, sempre mulheres e sempre belas, mas a
única coisa realmente em comum entre elas é uma tatuagem nas costas de uma
cobra e o número zero, todas morrem de estrangulamento e nenhuma morte foi
resolvida, há uma pessoa que diz ter visto uma cobra gigante estrangulando uma
mulher loira com o rabo e ela gritava pedindo socorro, mas a polícia não
considerou o relato por ser impossível. Isso ocorreu por meses, morreram no
total doze mulheres na cidade.
Um
garoto chamado Daniel se apaixonou por uma moça bela chamada Polly e eles tiveram
um romance por alguns meses, porém numa noite, curtindo um céu estrelado,
Daniel tira a blusa de Polly e percebe a tatuagem de cobra com o número 1 e
pergunta do que se trata, nesse momento Polly olhou para o relógio desesperada
e viu que só faltavam dois minutos para meia-noite, então ela olhou para o
Daniel e falou para correr, correr como nunca correu na vida, era uma questão
de vida ou morte. Daniel achou que fosse brincadeira e logo ela começou a se
contorcer, se jogou no chão, seu corpo começou a se esticar, suas pernas se
grudaram e um rabo começa a surgir e na mente do garoto a lenda urbana veio à
tona.
Daniel
correu para longe e percebeu que estava sendo seguido, ouviu o rastejo de algo
grande e não quis olhar para trás, mas foi derrubado por um rabo que laçou suas
pernas. Assustado ele não olhou muito para o ser, mesmo sem ser religioso logo
recorreu a reza e começou em voz alta a orar, mas uma voz escorrida e suave o manda
ficar quieto, reza nenhuma o salvaria.
No
momento que o rabo dessa cobra começou a enrolar todo o corpo de Daniel alguma
coisa a derrubou, fazendo-a larga-lo, era outra cobra dessas gigantes e nesse
momentos ele viu com todos os detalhes que as lendas contadas eram reais, um
corpo humanoide com um rabo imenso de cobra, presas afiadas, braços fortes, uma
era careca e outra com cabelos loiros compridos, deveria ser a Polly. Aqueles monstros
começaram a brigar, se enrolar, se bater e logo começaram a conversar em uma língua
muito diferente e então se largam, se afastam e a cobra loira vai embora.
- Daniel, vejo que você se apaixonou pela pessoa errada. –
Diz a grande cobra com voz masculina e em português. – Infelizmente ela foi uma
das escolhidas pela Naga, uma entidade que possui diversas servas que são
fundidas as almas das bebês quando nascem e sempre elas se tornam belas
mulheres, como a Pollyane. Eu sou um caso diferente, sou um amaldiçoado pela
entidade e tenho essa forma eternamente, meu nome já foi Felipe, hoje sou só um
monstro, então caço esses seres e mato-os.
- Como assim entidade? Quem é você? Seis meses? Você que
estava matando aquelas mulheres? Porque não matou essa? Como eu nunca percebi? –
Daniel lança várias perguntas desesperado.
- Muitas perguntas, mas nenhuma correta, o que quero dizer é
que como os lobisomens, elas se transformam em Nagas em tempos determinados,
apenas a tatuagem em suas costas conta os dias para que a entidade tome conta
do corpo da mulher e se transforme, elas sabem e sofrem com a transformação e o
único jeito de livrá-las é matando-as. Normalmente se transformam de sete em
sete dias, mas pode variar, e costumo matá-las enquanto humanas, pois é mais fácil,
são seres difíceis de morrer quando transformados, os humanos são mais frágeis que
elas. Agora o que interessa, porque não a matei? Porque durante a luta percebi
que ela estava frágil e então notei algo diferente, ela também percebeu que
estava mais fraca e conversamos. Ela está grávida, você será papai, mas seu
bebe não será uma Naga, não se preocupe, pois é menino e nasce daqui a cinco
meses, por isso combinamos que ela esperaria o bebe nascer e então nos encontraríamos
para uma luta mortal, digamos que dei uma trégua a ela.
- Como assim um bebe? Ela nem tem barriga grande, nem teria
tempo para...
- Vocês transaram na primeira noite, ali ela engravidou,
portanto nós lhes daremos este tempo e depois disso eu a matarei e você criará
o seu filho e esquecerá de tudo isso. Volte ao local onde estavam curtindo as
estrelas, ela estará lá esperando e não se lembrará de nada que fez enquanto
transformada, acalme-a dizendo que não tem problema e conte tudo o que lhe
contei, aproveite cada dia como o ultimo e não fique olhando sua tatuagem nem
tentando aumenta-la, é inútil. Agora tenho que ir. Fato importante, no último
dia pegue o bebe e suma.
Dali em
diante foram meses maravilhosos, cada dia vivido foi único e os dois aproveitaram
ao máximo, Daniel não olhava a tatuagem para não ficar contando os dias, Polly
não falava do assunto para não assustar e assim eles levaram esses cinco meses.
Na
última semana tudo ficou mais difícil, estava chegando perto do momento deles
se separarem e então uma pessoa mandou uma carta anônima para Polly dizendo que
havia uma mulher, há 50 anos atrás, que conseguiu se libertar, a entidade simplesmente
optou por não voltar mais e a tatuagem mudou de um número para um símbolo do
infinito, ela devia tentar descobrir algo, o nome da mulher é Raquel Moreira,
mora em São Paulo.
Mas
como faltava muito pouco tempo, ela acabou nem contando ao Daniel para não
criar falsas esperanças, escondeu a carta, ela queria essa última semana perto dele
e assim ficaram, o bebe nasceu e no dia seguinte a tatuagem estava com o número
1, Daniel prometeu cuidar do bebe e beijou Polly pela última vez.
Polly
fugiu do hospital para um local longe, onde poderia se transformar sem matar
nenhum humano e logo apareceu aquele homem cobra, mas por algum motivo Daniel
apareceu logo em seguida, segurando a carta anônima, mas quando foi falar
alguma coisa Polly começou a se transformar e sem saber o que fazer Daniel
esperou de pé, entre os dois monstros e leu a carta para a entidade da
Pollyane, ela parou, pensou e respondeu com aquela voz suave que é verdade, é
possível abandonar a alma do nosso recipiente e Daniel suplicou, pelo amor que
sente por Polly que a entidade abandonasse o corpo dela e a liberasse para
viver livremente ao lado dele. A Naga então, com seu rabo, enrolou Daniel e
Felipe avançou para defendê-lo.
- Não faça nada Felipe, se for para viver sem a Pollyane eu prefiro
morrer e deixar o bebe para ser criado pelos meus pais, eu não suportaria olhar
todos os dias para um lindo bebe e lembrar que a mãe dela foi morta porque era
dominada por um monstro sem coração que não foi capaz de desistir do que quer
que tivesse vindo para fazer nesse mundo.
- Como pode falar assim, está prestes a morrer e me chama de
monstro sem coração? Você é muito petulante, irei esmagá-lo agora mesmo.
- Não, se tentar qualquer coisa eu te mato antes Naga – diz Felipe.
– Aceite o pedido do garoto e deixe-a viver para criar o bebe.
- Nunca, libertá-la é o mesmo que morrer, se for para morrer
será lutando contra você, um amaldiçoado que vem matando todas de minha raça. –
Nesse momento ela aperta mais a cauda esmagando um pouco Daniel.
- Eu dou a minha vida pela dela, me mate e liberte-a, assim
não terá mais Nagas morrendo em minhas mãos e o bebe terá seus dois pais
presentes.
- Você faria isso por alguém que nem conhece? Um ser humano desprezível
como você já foi?
- Sim, faria e farei se topar.
- Você é louco, mas se estiver falando a verdade eu topo,
desde que eu te mate com as próprias mãos e só depois a liberte. – A Naga solta
Daniel que caiu já quase sem ar e parte para cima de Felipe, enrola sua cauda
no pescoço dele e o quebra com a facilidade de quem queria ter morrido.
- Agora é sua vez Naga. – Diz Daniel ofegante.
- Cumprirei com minha palavra, mas aproveite a vida que lhe
dei e reze para não ter nenhuma filha mulher. – Ao dizer isso a Naga começa a
se transformar na bela humana Pollyane.
Daniel cobre Pollyane com sua
camiseta e a leva para o hospital correndo, olhando para trás apenas vê o corpo
de Felipe se desfazendo em pó, Daniel também é internado porque estava com
algumas costelas fraturadas.
Ao serem liberados do hospital,
com um símbolo do infinito na tatuagem, Daniel e Pollyane se casam e vivem felizes
com seu filho e alguns anos depois eles engravidam de novo de uma menina, mas
só o futuro dirá.
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