Esse dia foi um dos piores, levei
uma surra que nunca vou esquecer, bem que eu pensei que estava fácil demais.
Depois de hoje eu fui a várias academias e me inscrevi em aulas de luta,
comecei a praticar Muay Thay e Boxe, assim pelo menos eu evitaria apanhar mais.
Também me matriculei em aulas de tiro, queria aprender a me livrar de inimigos
a certa distância, nunca se sabe quando vou precisar, mas tudo isso só depois
de ter passado duas semanas internado e mais um mês engessado.
Agora vou lhes contar o que passei,
a triste história do dia em que eu não fui o herói, pelo contrário, eu fui um
moleque bobo que levou uma surra a toa.
Eu estava andando, Simbio estava
comigo, nós avistamos uma “coisa” que se seguia de uma grande cauda, não
parecia nada natural e, como de costume, eu fui verificar.
Vocês conhecem um centauro? Ele é
um humano que da cintura para baixo tem o corpo de um cavalo, com quatro patas,
rabo e tudo o mais. Essa coisa que eu vi parecia muito com um, mas é
definitivamente bem diferente, pois ao invés de um corpo de cavalo ela tinha um
corpo de cobra, era bem feio mesmo e tinha uma força impressionante, pois já
estava erguendo um pilar de concreto bem grande como se estivesse malhando.
Quando cheguei próximo “daquilo”, mas ainda tentando ser bem furtivo, ela
simplesmente olhou para trás em minha direção e sorriu.
- Porque me seguesssss... – Fala com uma voz trêmula e
puxando o S, mas ainda mantendo o
pilar no ar.
Tentei fingir que não era
comigo e fui embora, por sorte ela não me seguiu, ao menos não naquela hora. De
certo que estava ocupada demais malhando, mas pelo menos adiou meu sofrimento
por dois dias.
Imediatamente
eu liguei para Lacrau, Heliaca e Canis e eles me disseram categoricamente - “NÃO
CHEGUE PERTO DAQUILO PRIMATA, estamos indo pra aí!” - Fiquei muito assustado
com o que disseram, o que seria “aquilo” e porque não me seguiu e me matou se
eles estão tão preocupados assim? Mas meus pensamentos foram interrompidos por
Simbio que logo pulou ao meu lado e repetiu a frase que os dominadores falaram
como se estivesse lendo meus pensamentos, alias, ele provavelmente estava,
porém eu não sou burro assim, não iria correr o risco se me avisaram para não
ir atrás daquele ser.
No dia
seguinte, era uma terça-feira, me lembro bem desse dia porque foi quando eu vi
com meus próprios olhos aquela coisa comendo um rato vivo, jogou-o no fundo da
garganta e simplesmente o engoliu, como se fosse uma aspirina. Aquilo me
apavorou e logo percebi que eu já estava fazendo o que falaram para eu não
fazer, eu já estava dentro do mesmo lugar que ontem. Eu não consigo resistir, a
curiosidade é maior.
Lacrau
chegou, logo em seguida veio Heliaca e Canis. Nos sentamos em um ponto de
ônibus próximo de onde aquele bicho se escondia, e por falar nisso eu não
contei que ele, ou ela, se hospedava no ginásio de esportes. Conversamos
bastante, me explicaram muitas coisas sobre isso, é um tipo de mestiço, assim
como os centauros, mas supostamente os centauros são criaturas boas da natureza
e os mestiços são criaturas malévolas e cruéis.
Essa
parte da história que fica interessante, quando já estávamos sentados ali ha um
dia inteiro e eu estava morto de cansaço, eu dei a ideia de irmos nos deitar e
amanhã enfrentarmos o ser, por sorte eles aceitaram, senão eu dormiria em pé.
No dia
seguinte, já de noite, fomos caça-la.
- Você aqui de novo? Já essssstava ficando com fome! – Ouvi
aquela mesma voz enquanto os outros três olhavam por todos os lados e já
passavam das 20h.
- Eu... eu sim, estou aqui de novo, gosto de passear por aqui,
mas... cadê você?
Dois
segundos foi o tempo suficiente para que Heliaca sumisse de nossas vistas, mas
Simbio, que não estava conosco, viu para onde ela tinha sido arrastada e me
avisou.
- Lacrau, Canis, eu sei onde ela está.
- Primata, fique quieto aqui, não saia de nossas vistas,
Heliaca sabe se virar e além do mais, ela voltará, mestiços fêmeas só se
alimentam de machos. – Diz Canis com sua voz rouca.
- Canis tem razão Primata, fique conosco, aqui é um espaço
mais fácil para lutarmos.
Logo
que Lacrau conclui sua frase é atingido por uma rabada e em seguida surge a
mestiça em nossa frente. Canis se preparou para lutar, Fenris parou ao seu
lado, Simbio logo se aproximou de mim e Lacrau levantou-se e limpou suas
roupas.
- O que quer nesta cidade? – Pergunta Canis.
- Nada, apenas me alimentar enquanto minhas crias não
nascem. Logo elas precisarão de muito alimento também, aqui me pareceu uma boa
cidade, bem hospitaleira.
- Hospitaleira? Hospitalidade você vai ter no hospital
quando estiver quase morrendo. – Digo partindo para cima da mestiça, mas sou
parado por um golpe de direita que me jogou cinco metros para traz.
- Eu lhe avisei Primata, você não ouve ninguém? – Fala
Lacrau.
A
mestiça corre para cima dos dois enfrentando-os ao mesmo tempo como se estivesse
brincando de bonecas, fiquei impressionado e tive que tentar ajudar, mas outro
golpe me derrubou de novo. Passados alguns minutos de briga Lacrau e Canis caem
no chão desmaiados e eu estou ali, fingindo estar desacordado, nunca havia me
metido em uma briga antes, ao menos não uma daquele nível.
A
mestiça se aproxima de Lacrau, cheira-o e passa a língua bifurcada em sua face,
então faz uma cara de nojo e vai em direção ao Canis, agora parece que ela
gostou, pois deu um sorriso macabro. Em seguida veio em minha direção, mas eu
estava pronto para ela.
Quando
a língua dela tocou meu rosto eu a segurei e usei um canivete que eu tinha
comigo para cortá-la, consegui, mas não foi a atitude mais esperta porque ela
começou a gritar e logo partiu em fúria para cima de mim, me batendo e me
chutando, só ouvia os zunidos e os estalos de meus ossos se quebrando, meus
olhos começaram a se cobrir de sangue e já nem enxergava muito bem, quando
consigo visualizar uma grande águia, era Royal, que atacou a mestiça por cima
enquanto Heliaca tirou uma espada dourada e a enfiou no que imagino ser o peito
daquele estranho ser. O que mais aconteceu eu não sei, estava desmaiado e
sangrando muito.
Neste
dia eu perdi mais do que três dentes, quebrei mais do que cinco ossos e só de
costelas davam quatro, os médicos alegaram que eu era um milagre por estar
vivo, mas eu sabia que alguém soube cuidar de mim enquanto eu não ia para o
hospital.
Então
passei duas semanas internado, um mês engessado e mais o resto da vida
praticando artes marciais e malhando muito, não queria nunca mais tomar uma
surra daquelas, ao menos serviu para me alertar de que mexer com o sobrenatural
não é uma brincadeira legal onde pode se divertir, é algo sério e um erro pode
ser fatal.
Durante
o tempo que fiquei em casa eu pude estudar melhor aquele papel manchado de
sangue que o zumbi deixou no chão, várias palavras estavam manchadas de sangue
e o que pude ler dizia algo sobre não confiar em alguém.
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