Andando pela rua, em um dia de solidão, parei em um trailer que vende lanches na avenida da cidade, meia noite de sábado.
Sentei sozinho em uma mesa, pedi um suco e um lanche.
Passado uma hora mais ou menos, um hippie chega a minha mesa com uma mulher, também hippie, e oferece seus produtos, suas artes. Demonstrando humildade e honestidade, puxei conversa com o rapaz, que de primeira olhada, parecia muito com o Seu Jorge (risos). Sentaram-se na minha mesa comigo e começamos a conversar.
Me lembro exatamente da primeira pergunta que ele me fez quando se aproximou: “Você é da Globo ou da Cultura?”.
Sem entender muito bem a pergunta, usei a imaginação e respondi: “Sou da Cultura e você?”.
Percebendo que eu fui além de emissoras de televisão ele me revidou com outra pergunta: “Porque diz isso?”.
Respondi sem medo: “Porque a Cultura move o Globo”.
Espantado ele disse: “Eu sou da Cultura e da Globo. Levo a Cultura que aprendo nas ruas, pelo mundo inteiro, globalizando essa tradição de arte de rua que não é uma profissão, é um estilo de vida”.
Mas então continuando a conversa o rapaz me falou algo interessante: “Na rua tem muita coisa ruim, muito caos, mas também tem muita coisa boa, tem arte, cultura e tudo que eu aprendo pelas cidades que passo só me fazem crescer”. Mas como ele era um hippie, a historia não podia parar aí e logo ele soltou: “Eu guardo tudo as minhas vivencias aqui no micro chip da minha cabeça e transformo em algo útil para minha vida”.
Nesse momento o mundo deu uma parada, tudo ficou paralisado, menos meus pensamentos, que começaram a explodir em idéias e imagens de tudo que já a respeito do assunto. Voltei para o mundo real e após ele terminar a frase, que eu acabei não escutando muito, ele se levantou da mesa e agradeceu a cerveja que paguei para ele e para a mulher que estava junto, comprei um porta-retrato que ele fez e logo foi embora.
Terminando meu lanche, já eram duas da madrugada, entrei no carro e fui embora após pagar a conta.
No meu quarto deixo um caderno para escrever as coisas quando me vêm à mente sem aviso e foi direto nele que me direcionei ao entrar em casa e desse dia surgiu este texto.
Atualmente estamos vendo na televisão, na novela Caminho das Índias da Globo, um assunto interessante, que é a esquizofrenia do personagem Tarso, interpretado por Bruno Gagliasso.
Em vários momentos ele fala sobre um chip que tem no pescoço e que o Dr. Lucas deveria tirá-lo, mas isso e a história do hippie me remetem à algumas lembranças de outros casos onde loucos ou outros personagens falam de possuir um chip na cabeça ou pescoço e até mesmo no pulso, como no filme “Entre a vida e a morte”, dirigido por John Glenn, onde o personagem principal, um ex-condenado interpretado por Paul Walker, é submetido à injeção letal por ordem judicial, mas logo ele aparece novamente, vivo, e tendo alucinações auditivas e visuais. No decorrer do filme ele percebe que foi vitima de uma experiência onde implantaram um chip em seu pulso que fazia ele ter estas “demências”, como forma de evitar a pena de morte.
Até onde os loucos são realmente loucos?
Muitos personagens importantes de nossa história foram taxados de loucos quando na verdade eles eram verdadeiros gênios.
Albert Einstein era considerado um lunático, Michelangelo era considerado louco e homossexual, Salvador Dali também considerado um “gênio louco”. Como podem ver, pessoas que fazem parte de nossa historia eram chamadas de loucas. Imaginem o que seria do mundo sem o, também taxado de louco e maníaco, Galileu Galilei, que defendeu a teoria de Copérnico sobre o fato de o Sol ser o centro do Universo, assim como também foi taxado de louco por dizer, mesmo após Fernão de Magalhães provar dando a volta na Terra, que nosso planeta era redondo e não chato. Será que todos são loucos?
Uma pessoa aparentemente normal, começa a falar com você e no meio da conversa ele diz que guarda suas lembranças num microchip de sua cabeça para poder usufruir disto tudo como conhecimento futuramente. Esse cara é um louco ou um sábio?
Se todos tivessem um chip na cabeça que gravasse detalhadamente cada informação que adquirimos com o tempo, seriamos gênios muito facilmente e mudaríamos a historia de novo, como outros já fizeram.
Com tudo o que escrevi aqui e tudo o que se passa na cabeça dos que acham que são normais, eu lhes pergunto:
“Quem será que é louco da história. Nós, que dizemos ser normais, ou os que acreditam em um micro chip?”
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