Terça-Feira, 18 de Agosto de 2009.
Era um dia com outro qualquer, acordei, vesti minha roupa de trabalho, escovei os dentes, peguei meu capacete, minhas chaves e montei na minha moto.
Fui para o trabalho e fiz o meu serviço durante a manhã toda, quando eram 11:30hrs meu chefe me fez um pedido que gerou muita confusão.
- Pedro, gostaria que você fosse buscar a Maria, filha do João, na escola.
- Certo chefe, vou sim.
João é o dono da empresa que trabalho e Maria é sua filha, que estuda no Alexander Flemming, onde eu deveria buscá-la.
Eu já havia visto Maria várias vezes na empresa, mas nunca gravei seu nome. Se qualquer um me perguntasse o nome dela eu não saberia responder, apenas lembrava de seu rosto.
Seguindo as ordens do meu chefe, fui buscá-la na escola, com a imagem da menina que eu conhecia em mente, para quando chegar na escola, procurá-la. Logo que me aproximei dos portões do colégio avistei várias menina da mesma faixa etária dela, então fiquei ali olhando e até desci do carro, caracterizado com o nome da empresa, com o crachá no pescoço, vasculhando cada grupo de adolescentes para tentar encontrá-la, mas foi em vão. Nesta hora resolvi então perguntar ao porteiro da escola, dando o nome completo do pai da criança e o nome dela e a resposta do porteiro foi imediata.
- A Maria, filha do João, fica neste portão, pois ela tem 8 anos e não deixamos as crianças na rua. Vou chamá-la.
Ele não me perguntou nada, nem se quer meu nome e a menina pequenina apareceu e lhe perguntei:
- Você é a filha do João?
- Sim, sou.
- Certo, seu pai pediu para buscá-la.
Imaginei que estava enganado sobre a menina que conhecia e que na verdade a Maria era esta, talvez a irmã mais nova daquela que eu via na empresa. Levei a menina para o carro e a levei até a filial onde João se encontrava.
Chegando na sala do pai da menina fui entregá-la e logo ele me falou.
- Esta não é a minha Maria. – Com a cara de espanto.
- Puta que pariu Seu João, se ta falando sério que não é a tua filha? – Com a cara de mais espanto ainda.
- Sério mesmo.
Solicitei de imediato que a criança ligasse para o pai dela do meu celular, assim poderíamos conversar e explicar o que ocorreu, mas logo percebi que a menina estava gaguejando muito e perguntei se gostaria que eu conversasse com o pai dela, ela me passou o telefone e perguntei o nome do pai dela, que por coincidência era João também.
- Olá Sr. João, sou o Pedro. Eu trabalho na empresa Alfabeto Informática e o dono da minha empresa havia solicitado que buscasse sua filha na escola e por engano acabei buscando a criança errada.
Mas ele não estava muito para papo e logo desabou em cima de mim uma culpa que eu não tinha.
- Quem é que ta falando, como que você leva minha filha assim, já até chamamos a policia, é bom você entregar minha filha logo, onde fica sua empresa, quem é você. – Falava o homem descontrolado e gritando ao telefone.
Respondi todas as perguntas, mas a vergonha subia cada vez mais na minha cabeça e o nervosismo também. Combinei que levaria a criança de volta para a escola e entregaria para a mãe dela, que já estava lá a quase 40 minutos, que foi o tempo que levou para eu descobrir o erro.
No caminho fomos conversando e em todas as oportunidades eu tentava alertá-la sobre prevenções para que não ocorresse novamente este erro ou coisa pior, como um seqüestro. A esta altura eu já me imaginava sendo parado de carro em qualquer esquina, com várias armas apontadas, mas a minha imaginação aumentou ainda mais quando a Maria contou que seu pai era dono de uma fábrica de refrigerantes.
Minha cabeça começou a se descontrolar e eu apenas tentava guiar o carro para a escola novamente, quando ouvi uma sirene de polícia e logo fui abordado. Parei o carro e aguardei a ordem dos policias que não foram generosos e muito menos calmos.
- Desça do carro com as mãos onde eu possa ver. – Falou um dos policiais enquanto o outro já se aproximava e apontava a arma para mim.
Como estava preocupado e com medo, com uma criança no banco do passageiro, abri a porta, coloquei as mãos para fora e quando tirei a cabeça também fui atingido por um golpe vindo do policial que estava próximo do veiculo. A menina então foi tirada do carro por outro policial que andou para a porta do pasasgeiro.
Meus punhos foram algemados e mais algumas vezes eu fui golpeado por socos e coronhadas enquanto os policiais gritavam:
- É seu pedófilo seqüestrador, mas desta vez você mexeu com a criança errada. Ela é filha do dono da Fabrica da Refrils. – E me batiam de novo e de novo.
Sangrando e sem conseguir falar, pois não deixavam, a historia foi se complicando cada vez mais. Piorou tudo quando o pai da menina chegou na delegacia para qual fui levado e os guardas deixaram ele sozinho comigo na cela, algemado, sem chance de defesa, fui novamente espancado até abrir um corte no supercílio, alguns dentes quebrados e meu braço praticamente fora do lugar pelos puxões e solavancos causados pelos oficiais.
Minha visão ficou turva e então cai no chão desacordado e só me lembro de já estar quase chegando na escola e tentando não imaginar coisas, mas estes pensamentos não saiam da minha cabeça. Pronto, eu já passei a pensar na minha família levando camisinha pra mim na cadeia.
Você riu né? Imagino, eu também dou risada, AGORA. Na hora isso foi o pior pesadelo que poderia acontecer, cena de filme ou de história para colocar em blogs.
Chegando na escola eu parei e rapidamente desci e abri a porta do passageiro para a Maria descer, por sorte meus pensamentos não aconteceram de verdade e o João novamente me ligou.
- É o Pedro?
- Sim sou eu João. – Falei reconhecendo o numero que a menina havia ligado. – Já estou aqui na escola “devolvendo” sua filha para sua esposa.
- Já chegou na escola? Que bom Pedro. Desculpe pela grosseria daquela hora que nos falamos, sabe como é né, já comecei a pensar em seqüestro e tudo o mais. Agradeço por ter cuidado dela e entregado ela em segurança.
- Mas Sr. João, desculpe me intrometer, sei que não é da minha conta, mas deveria conversar na escola, pois liberaram sua filha para mim sem nem sequer perguntar meu nome, sendo que eu estava com um carro de outra firma e crachá no pescoço.
- Sim Pedro, vou conversar pessoalmente com os responsáveis da escola. Isso foi um absurdo. Mas obrigado de qualquer forma.
Após a conversa e a mãe levar a criança, já eram 12:30hrs, eu ainda tinha que buscar dois colegas que estavam aguardando em clientes e nosso horário de almoço começava ao meio-dia, sendo assim comecei a almoçar quase às 13:00hrs.
Se não quiserem acreditar, tudo bem é difícil mesmo, mas gostaria de esclarecer que esta história é real e ocorreu comigo. Pedro é na verdade Gabriel.
Os nomes apresentados, tanto dos personagens quanto das empresas, são fictícios, assim pude apresentá-los este fato inesquecível sem prejudicar os envolvidos.
Como podem perceber o nome da escola é um nome que existe, e foi o único que não alterei, para deixar todos cientes do erro que aquela “famosa” instituição foi capaz de cometer.
Comentários